terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Texto IV - Memórias Póstumas de uma Paixão


Texto IV – Volto pra miséria mas volto para o meu amor

Ela era a terceira filha, para tristeza daquele pai nordestino que desejava um filho macho que continuasse a sua geração, os Bastos. Seu pai um trabalhador, permanecia ausente o dia inteiro. A mãe, nunca viu pessoalmente e o que sabe dela são os relatos de terceiros sobre suas proezas sexuais. A madrasta, uma neurótica psicopata que tinha um desejo visceral em bater, dominar, controlar e humilhar. Seu nome, Carolina qualquer coisa de Bastos. 

Começou a vida sexual cedo e confundia amor com orgasmo. Achava que amar era sentir aquela sensação inexplicável e rápida. Então amava apenas na cama. Não entendia por que bebia e perdia o controle, pareciam dois corpos em um só. Tentou tirar aquele encosto na igreja, não foi possível, não tinha o dinheiro para pagar o descarrego. Sumiu para o sertão e após muita fome e miséria resolveu entrar em contato com seus parentes distantes. 

Quanta alegria rever aquela prima tão sumida e tadinha, a bichinha estava tão magra. Sem estudos? Sem documentos? Doente? Toda a família resolveu ajudar. Compraram móveis, arrumaram colégio, emprego, roupas, documentos, remédios, afinal, era uma coleção de doenças naquele corpo frágil e sofrido. A oportunidade para um novo começo. 

Carolina qualquer coisa de Bastos, deixou a família confusa, pois só chorava. Um dia ela resolveu finalmente contar que foi mulher de vários bandidos, apanhou que nem uma coitada, mas finalmente se sentia amada e aquele choro era de saudade de Gumercindo. Disse que era um rapaz trabalhador, que pedia que ela fumasse menos, que nunca bateu nela e que falava para ela calçar os chinelos. 

Todos se comoveram, até o desconfiado patriarca decidiu emprego arrumar para aquele homem tão bom, o genro encantado. Carolina qualquer coisa de Bastos, tomou fôlego, panfletou, catou latas e lixos, e mandou uma parte do dinheiro para que Gumercindo pudesse viajar para perto da amada e lutar por uma vida melhor. O dinheiro foi, mas o homem nada de chegar. 

Carolina qualquer coisa de Bastos, era um sofrimento só, quando finalmente a notícia chegou, Gumercindo seu amado, já estava com outra enamorado. Tem certeza? Aquele moço tão bom? Mas olha mulher, dá a volta por cima, não se entrega não, era o que a família aconselhava. Carolina qualquer coisa de Bastos, não suportou a dor e para o sertão e à miséria retornou e não se sabe como isso acabou. 
Fevereiro/2011 Sally Barroso 
Esboço de um livro que teria por título "Memórias Póstumas de uma Paixão" (sobre mim, sobre pessoas, sobre paixões)